Pele com pele

Atualmente as recomendações são para que mal o bebé nasça seja colocado no peito da mãe em pele com pele, que haja continuidade desta prática no internamento e nos primeiros meses de vida do bebé.

O peito da mãe é o habitat natural do bebé! Ele esteve 9 meses dentro da barriga da mãe, por isso, quando nasce, o único local que ele conhece é o corpo da mãe.

Imagina que aterras num planeta longíquo, estás assustado, não sabes bem o que esperar e onde só conheces uma pessoa. Agora imagina que essa pessoa te fazia uma recepção calorosa, acompanhava-te até te sentires bem, apresentava-te outras pessoas e locais, fazia-te realmente companhia ou simplesmente dizia-te bem-vindo e desaparecia. Como te sentirias melhor? Que sensações irias ter num e noutro cenário? Que hormonas o teu corpo iria libertar? Que respostas o teu corpo iria dar a um novo ambiente no futuro?

porque é tão importante fazer pele com pele?

Existem muitas razões para se fazer pele com pele mas a principal é porque é lá que o bebé pertence! É importante entender que a mãe e o bebé são uma entidade biológica e psicológica única e que para o bebé intergrar todas as emoções e sentimentos é com amor e contacto que eles serão intergrados da melhor forma. 

Bebé

Mãe

  • Estabilização cardiaco-respiratória
  • Regulação da glicémia
  • Regulação da temperatura
  • Diminuiu níveis de cortisol 
  • Chora menos
  • Mama melhor e por mais tempo
  • Imprinting
  • Colonização da pele pelo microbioma da mãe
  • Ativa respostas inatas do bebé
  • Instintivamente vai-se adaptando aos comportamentos do bebé (ativação do lado direito do cerebro)
  • Aumento da produção de ocitocina
  • Aumenta a autoconfiança
  • Amamentam por mais tempo
  • Aumento na produção de leite
  • Diminuiu stress
  • Maior vínculo com o bebé
  • Previne depressão pós-parto

Método kanguru

O conceito do pele com pele (Método kanguru) surgiu em 1970 e começou a ser realizado numa maternidade em Bogotá, Colômbia, quando não havia incubadoras suficientes para os bebés prematuros.
Puseram-nos no peito das mães e começaram a perceber que os bebés ficavam mais estáveis quando em contacto pele com pele do que nas incubadoras, que ganhavam mais peso e a taxa de mortalidade diminuiu.

Num estudo feito com prematuros no Brasil, as unidades de neonatologia que promoveram o método kanguro obtiveram taxas de aleitamento materno exclusivo na data da alta de 69,2% em comparação com 23,8% nas unidades que não promoveram o método.

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o estudo que todos deviam conhecer:

Em 2021, um estudo randomizado realizado com bebés de muito baixo peso (1kg-1,799Kg) dividiram os bebés em 2 grupos. Metade ia para a incubadora mal nascia, que é a prática mais comum atualmente, e a outra metade ficava em contacto pele com pele com a mãe logo após o nascimento e continuavam assim quase ininterruptamente.

Resultado:
Pararam o estudo a meio pois morreram pelo menos mais 25% de bebés com a prática que é realizada actualmente (na incubadora) do que os que ficaram em pele com pele com a mãe. Para além disso, os bebés que fizeram pele com pele tiveram menos casos de hipotermia e suspeita de sépsis (infecção generalizada).

Este é mais um importante estudo que conclui que o contacto pele com pele é fundamental nos bebés. E nos prematuros pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Mesmo para bebés de termo, saudáveis, muito contacto pele com pele previne grande parte dos problemas que possam surgir na amamentação, mas não é para ser feito só nos primeiros dias, ou na primeira hora de vida, que é o mais falado, é nos primeiros meses que deve ser feito sempre que possível.

por quanto tempo

Logo após o nascimento e nos primeiros dias de vida é importantíssimo tanto para a mãe como para o bebé que este seja colocado em contacto pele com pele.

Para que todo o cocktail hormonal flua é importante que este pele com pele seja feito com sentimento, com intenção e não como uma obrigação, para que se consiga ativar o lado direito do cérebro, o lado mais emocional de forma a que toda a cascata hormonal se desencadeie. 

Esta cascata emocional também é ativada no pai, quando é ele a fazer o pele com pele, e por isso, é importante que este pele com pele seja também feito com o pai ou o outro cuidador principal para se promover o vínculo.

Mesmo para bebés de termo, saudáveis, muito contacto pele com pele previne grande parte dos problemas que possam surgir na amamentação, mas não é para ser feito só nos primeiros dias, ou na primeira hora de vida, que é o mais falado, é nos primeiros meses que deve ser feito sempre que possível.

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Doi: 10.1056/NEJMoa2026486

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Mastite – uma visão integrada

No início de 2022, a “Academy of Brestfeeding Medicine” emitiu um protocolo sobre mastites que revolucionou a forma de interpretar para esta doença. Somos desafiado a olhar para a mastite como um espectro em que a hiperlactação e a disbiose estão no centro do problema.

O que é a mastite?

A mastite é um processo inflamatório da glândula mamária, que geralmente afeta uma zona da mama e por isso dizemos que é segmentar.

Hiperlactação

Disbiose Mamária

A produção de leite não é sempre igual e é controlada por fatores hormonais e locais.

Mamas que produzem muito leite estão em maior risco de mastite. 

A disbiose mamária é uma desregulação do microbioma do leite que pode ter várias causas. 

Quais são os sintomas?

Os sintomas de mastite geralmente aparecem de forma súbita e são:

    • Dor na mama
    • Dor ou sensação de ardor contínua ou durante a amamentação
    • Vermelhidão ou inchaço na mama
    • Pele quente ao toque
    • Corrimento amarelo do mamilo
    • Sensação de mal-estar
    • Febre
    • Dores corporais
    • Cansaço
    • Arrepios

Porque dizemos que a mastite pertence a um espetro de doenças?

Pensamos atualmente que a mastite pertence a um espectro de doenças que na sua base têm como principais fatores a hiperlactação e a disbiose. Antes de existir matiste, acontece um estreitamento dos ductos de leite. Este estreitamento pode condicionar tanto um galactocelo, uma mastite inflamatória ou um fleimão. A mastite inflamatória ou o fleimão podem evoluir para mastite bacteriana e até mesmo para abcesso. Vamos rever alguns conceitos:

Galactocelo: Quisto de leite

Fleimão: Inflamação localizada dos tecidos  

Abcesso: Quisto de tamanho variável com pús no seu interior

Podemos prevenir a mastite?

A primeira medida é informação. As mulheres devem compreender a base da produção de leite e as alterações anatómicas que são esperadas durante a amamentação. 

Deve ser promovida a livre demanda e a utilização de suporte adequado para as mamas. 

Quando é necessário por desconforto materno extrair leite, faze-lo manualmente e só o necessário para o conforto.

Evitar o uso de:

    • bombas de extração de leite
    • esterilização por rotina de bombas de extração
    • mamilos de silicone
    • massagem profunda da mama
    • esvaziamento completo das mamas
    • banhos de sal
    • cremes para os mamilos

Como tratamos a mastite?

    • Diminuir a dor e a inflamação
    • Tratar as alterações como bolhas de leite, galactocelos, hiperlactação e disbiose
    • Considerar probióticos e ultrasom terapêutico
    • Avaliar a depressão pós parto – existe associação entre mastite e depressão pós-parto. 

Quando procuramos um médico?

Devemos procurar ajuda médica se:

    • Sintomas sistémicos persistentes, como febre mais de 24 horas e taquicardia;
    • Mama não responde ao tratamento conservador instituído

E antibióticos?

Geralmente não são necessários numa fase inicial e só devem ser tomados após observação por um médico.